25 de outubro de 2005

MONARQUIA, ou o dogma republicano


Falar de monarquia nos dias que correm é tabu. Todos o evitam, todos afirmam que não é oportuno, todos acham que é uma barbaridade pensar-se na monarquia como alternativa ao actual regime. E a opinião pública, os portugueses e o país conformam-se e pensam que de facto, só podemos viver numa república. Que em Fevereiro lá teremos que ir votar e que o país seguirá o seu caminho…
Mas a verdade é que existe uma alternativa, que pode ser discutida e que é tão válida, credível e racional como a actual (senão mais!).

Todos sabemos que o país atravessa uma grave crise, não só financeira, como também a nível social, destacando aqui, a pouca confiança na classe política que os portugueses têm vindo a manifestar, facto não desprovido de razão.
Mas se é verdade que a opção por um regime monárquico, não resolveria o problema do défice orçamental, nem resolveria o problema da tão necessária reforma da administração pública e muito menos acabaria com o desemprego, a verdade é que pode e deve ser debatido, a bem da democracia que todos apregoa-mos.
Não existe verdadeira democracia onde se nega a possibilidade de discussão, o que infelizmente acontece na sociedade portuguesa, mesmo que por detrás da máscara do não-oportunismo (para já não falar da al. b) do art.º 288.º da Constituição da República, referente aos limites materiais à sua revisão).

Pois bem, aproximam-se eleições presidenciais e dado o actual estado da nação não há qualquer desculpa para não se debaterem alternativas ao actual sistema, ainda mais quando vemos exemplos de sucesso ao nosso lado.
A minha sugestão é que se fale, se debata, que se diga bem e se diga mal, mas acima de tudo que se discuta de igual para igual as opções de regime que temos, a bem da democracia e a bem de Portugal. Ou será que a república e os republicanos (se ainda os houver verdadeiramente...) temem o debate?


in CRITÉRIO, edição de Outubro 2005

4 comentários:

José Maria P. de Azeredo disse...

Este seu comentário, 'My Fair Lady' (é pena que não se identifique...), só vem provar e demonstrar que o que aqui escrevi está certo!

Caríssimo, já foi ver o relatório sobre Desenvolvimento Humano da ONU, publicado em Setembro deste ano? Quando o ler, há-de reparar que sete dos dez países mais desenvolvidos segundo este índice são monarquias.
E já que menciona a implantação da república, convido-o a comparar a estabilidade governamental no período que vai de 1900 a 1920, certamente que vai ficar elucidado quanto à frieza dos números.

Desde já lhe agradeço o seu comentário, esperando que numa próxima vez seja mais objectivo naquilo que critica e que não se diminua a meras ideias soltas e desconexas, sem fundamento!

Até breve (espero!)

Tatão disse...

Num espírito de contribuição (democrática) sinto-me obrigado a comentar este post. Como verdadeiro republicano, não evito falar de monarquia e não penso que qualquer outro português o faça com medo que a monarquia seja afinal a melhor solução. O facto de não se falar da monarquia como uma alternativa, deve-se exclusivamente ao facto de o sitema monárquico estar ultrapassado e desajustado às necessidades actuais. A monarquia foi importante enquanto dessa forma de governação dependia a estabilidade e o avanço de um país. Ao avançarmos para uma democratização da sociedade, o sistema monárquico perdeu todo o seu sentido. A ideia de uma pessoa ter o direito à governação apenas por nascer em determinada família vai contra a ideia mais básica de o que é uma democracia. Bem sei que na sociedade em que vivemos 75 % do nosso futuro vem do berço, mas estabelecer esse direito seria não apenas injusto, mas iria também transmitir uma ideia contrária àquela que os governantes devem transmitir: igualdade!

O facto de o nosso país se encontrar no estado em que se encontra não deve suscitar alternativas radicais (retrógradas no caso da monarquia) ao regime vigente. A monarquia não é, de todo, “uma alternativa (…) tão válida, credível e racional como a actual”. Seguindo esta linha de pensamento, porque não discutir a anarquia como alternativa?

Após uma rápida consulta do relatório sobre desenvolvimento humano da ONU pude constatar de facto que muitos dos países de topo são monarquias (todos eles no entanto com os poderes do monarca muito limitados, senão apenas representativos). Este facto não pode no entanto ser interpretado de uma forma tão limitada. Senão Portugal, com os seus mais de 750 anos de monarquia devia estar também nos lugares de topo e não num modesto 27º lugar. Como é evidente o facto de esses países estarem no topo em termos de desenvolvimento humano, não se deve ao facto de serem monarquias, mas sim a toda a sua história (económica, política e social) recente.
“convido-o a comparar a estabilidade governamental no período que vai de 1900 a 1920”. A pergunta “comparar com o quê?” impõe-se nesta situação.

Gostaria de convidar qualquer monárquico (“se ainda os houver verdadeiramente”…) a responder.

Um abraço (republicano) do bem identificado,
João Nuno Soares

P.S.: Este comentário não tem como objectivo ferir susceptibilidades individuais.

João Pereira dos Santos disse...

Para haver debate, necessário seria que um dos lados da barricada tivesse argumentos válidos para justificar a mudança. Já li muitos artigos em que monárquicos sustentavam a necessidade do retorno a um sistema dinástico, e não vi nenhum argumento que não fosse, no minimo, falacioso e fácilmente desmontável por qualquer pessoa minimamente informada. A República não tem medo do debate. A República apenas aguarda que apareça alguém que verdadeiramente a conteste. E nunca vi nenhum monárquico a contestá-la com argumentos credíveis.

José Maria P. de Azeredo disse...

Muito Agradeço as observações que aqui são deixadas e dado o interesse e as questões lançadas, prometo para breve, assim que a faculdade me o permita, uma resposta aos comentários feitos.
Desde já agradeço a vossa participação.